26 março, 2004

AINDA SARAMAGO

LUÍS ENE, do Ene Coisas, comenta aqui o que escrevi sobre a entrevista de José Saramago ao DN.
Sem querer entrar em polémicas, mas porque gosto do confronto de ideias, deixo-lhe aqui a minha resposta, com um abraço.

Luís – seria “politicamente correcto” começar por dizer que, a Saramago, se deve o maior respeito, que é uma referência nacional, usar superlativos nos adjectivos, enfim, dizer aquilo que já é lugar-comum quando nos referimos a J.S.
Mas como não sou político e não sou obrigado a alinhar pela voz da “maioria”, disse tão só o que a entrevista de J.S. me suscitou. Não sou reverente perante as figuras públicas e não consigo, nem tão pouco o tento, acertar as minhas opiniões pelas alheias.
De José Saramago li algumas obras. Destaco, porque me deram um imenso prazer, “Levantado do Chão”(edição do CL, autografada pelo autor em Bona/RFA), que reli na tradução de Rosi Bettermann (“Hoffnung im Alentejo” disse-me muito mais que o título original), “Todos os Nomes” e “Ensaio sobre a Cegueira”.
Assisti na Universidade de Bona a uma conferência de J.S., que fez encher um anfiteatro de gente ávida de palavras ditas com inteligência. E foi, de facto, uma excelente conferência. Estávamos perante um J.S. acabado de receber um Prémio Nobel, como sempre irreverente, mas dando sinais de uma incomodativa arrogância (de um comunista espera-se humildade, para além de outros atributos).
Após aquela conferência, e na tertúlia que se seguiu, as opiniões divergiam relativamente ao entendimento que J.S. tem do Mundo (e das pessoas que o formam).
No entanto, convergimos: Saramago escreve bem! (se é que isto quer dizer alguma coisa).
Mas a questão colocou-se, e agora repete-se, se devemos dissociar a escrita do homem.
Isto é, temos a obrigação de isolar a obra de J.S. do conteúdo das suas declarações?
Podemos dizer que amamos a sua obra e odiamos o seu pensamento como cidadão?
Estou como tu, Luís, quando dizes “que por estes dias tenho a sensação que pouco sei e do pouco que sei de nada tenho a certeza.”
A única certeza que tenho é que não gostei das equações de Saramago sobre a Democracia, sobre a “validade” do voto, enfim, não gostei da sua suposta soberba anti-cidadania.
E disso dei conta no Praça da República.

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