26 dezembro, 2003

CÉLIA (1)

Como prometido, a Célia visitou-me no Domingo à noite, já muito noite. Vinha estafada de uma viagem cheia de embrulhos.
Agora repousava à minha frente, com os seus olhos muito azuis, ofuscados pelo nevoeiro londrino. Reparou nas novas fotografias que por aqui espalhei, porque Natal também tem que ser renovação. Dedicou um tempo suplementar às “curvas” de uma silhueta feminina que peca por demasiado exposta. Percebi-lhe um gesto de interrogação. “São contratos a prazo” – disse-lhe eu. “Como sempre, não é João?”. Acedi em concordar que a estabilidade não passa por pactos definitivos.
A Célia já vai na sua 3ª tentativa de encontrar a alma gémea. Curiosamente, diz-me não acreditar conseguir ficar por aqui. Culpa-se e desculpa os outros.
Não quis tomar a taça de um branco que refrescara pensando nela. Preferiu um gin tónico, com muito gelo. Quis saber se eu já comprara o dvd dos Coldplay. Levantei-me e coloquei “Clocks”. Puxou-me a mão que acariciou o seu rosto. Julgo, não estou certo, que algumas lágrimas nos invadiram o espírito.
À saída, um ténue beijo nos lábios selou uma amizade com mais de 25 anos.
Estaremos sempre no mesmo sítio. Independentemente dos contratos estabelecidos.
Obrigado, Célia.


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