30 novembro, 2003

QUE EUROPA?

Neste Domingo cinzento, pouco apetece estar a teclar, mas há algumas coisas que ficaram por escrever. Aproveite-se então para por a escrita em dia.
Retomo o tema da Europa (após a violação do Pacto), e em resposta ao meu amigo Pedro L. e ao Carlos a.a.: o que eu pretendi dizer foi que a Europa igualitária com que muitos sonham não tem, desta forma, viabilidade. Sabia-se, desde a decisão do alargamento, que quer a França quer a Alemanha, não estariam dispostas a "estar" numa Europa que não lhes prestasse vassalagem. Lembro-me de, há poucos anos, e já na era Schröder, os responsáveis alemães terem dito que não estavam interessados em continuar a ser a maior fonte subsidiária desta Europa. A não ser que....! A não ser que os países mais pequenos se comportassem bem e não colocassem em causa o seu poderio.
Portugal, por variadas razões, tem sido sempre tratado como um país deficitário, incapaz de criar riqueza própria, inapto para integrar o pelotão da frente europeia. Algumas vezes apelidado de "bom aluno", o país espelha-se para o exterior como um território de Sol e areias brancas, com águas costeiras bem temperadas e uma mesa gostosa e de bom preço. Muitas vezes elogia-se o nosso espírito aberto, a que teimam em chamar de latino.
E para que essa imagem prevaleça, o Portugal deste início de século é um país sem destino e sem convicções. Cada vez mais enfraquecidos na Europa, sem sabermos o que pretendemos fazer com a África lusófona, sem terreno para conquistar na América Latina, sonhando com um Atlântico que já não passa pela nossa costa, o futuro deste País, a continuar assim, só poderá ser o da subserviência perante alemães e franceses (os ingleses virão depois).
Quando Portugal alinhou ao lado dos EUA e da GB na questão do Iraque, pensou-se que a política externa portuguesa estaria definida. Sem virar costas à Europa, afirmávamos a nossa vontade de nos voltarmos para o Atlântico. Foi sol de pouca dura. Embarcando na chantagem franco-alemã, lá fizemos o favor aos maiores consumidores do nosso vinho rosé e aos maiores importadores europeus dos nossos produtos. A história da nossa afirmação junto dos parceiros europeus foi tão efémera que tem um gosto a falso.
O que eu pretendo dizer com esta minha curta mensagem é que a Europa igualitária não existe. E se algum sonho foi acalentado nesse sentido, ele está hoje transformado em cadáver.
A minha questão, e aquela que nos deve preocupar, é saber para que Europa é que caminhamos e que Europa é que afinal queremos.
Sobre este assunto, não percam o artigo de António Barreto no "Público" de hoje (30/11/2003).

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